Foto - Jalisson Ferreira |
“Não é comum no semiárido do nordeste o cultivo de cana-de-açúcar. A gente vê nas regiões litorâneas do estado, na Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Quando você adentra para o sertão, você não tem um plantio de cana por causa das condições climáticas. A precipitação anual é de 400 mm de água por ano. A cultura precisa de pelo menos 1200 mm”, explica o produtor.
Para resolver a barreira da falta de chuva periódica e viabilizar o plantio, o canavial é irrigado diariamente por meio da técnica de gotejamento, onde a água é aplicada de forma pontual através de gotas diretamente ao solo.
A irrigação nas lavouras de cana-de-açúcar ainda é pouco utilizada. Mas esse processo tem sido intensificado nos últimos cinco anos e interfere diretamente na produção.
No Rio Grande do Norte, a média de produtividade é de 47 toneladas por hectare - isso nas plantações de sequeiro, ou seja, aquelas que dependem da água da chuva. Com a irrigação, essa produtividade poderá ultrapassar as 100 toneladas.
Outro benefício da irrigação é o aumento no número de ciclos de produção da cana. Enquanto no plantio tradicional a planta se desenvolve por cinco anos, com a irrigação, os ciclos podem chegar a até 12 anos para que o cultivo seja renovado.
Até o início do próximo período chuvoso, a expectativa do produtor é ampliar a área plantada, totalizando seis hectares de cana-de-açúcar. O que deve gerar uma produção entre 600 e 720 toneladas da matéria-prima pra cachaça. Toda a produção será destinada para a fabricação da bebida artesanal.
As primeiras plantas devem atingir o ponto certo para serem colhidas a partir de novembro deste ano. Enquanto a cana não cresce, os preparativos no alambique seguem na reta final. O maquinário para a produção da cachaça está praticamente pronto. A instalação do alambique de cobre, fundamental na fabricação da cachaça, foi um passo importante.
“A gente visitou vários engenhos na Paraíba, Pernambuco e Minas Gerais. Então foram várias visitas e conseguimos tirar o melhor de cada um para montar esse alambique aqui no Vale do Açu, bem no coração do Rio Grande do Norte”, lembra George Darlos, sócio do projeto.
Segundo George, tudo vai funcionar como um ciclo fechado reunindo a produção da cana-de-açúcar com a fabricação da bebida num só lugar.
“A cana é irrigada aqui no nosso próprio terreno e a gente tem uma característica para retirar o melhor caldo é que a gente colhe e em menos de 24 horas é moída, fermentada e destilada no nosso alambique de cobre. Depois que sai o coração da cachaça, as outras partes podem ainda ser reprocessadas através da coluna de álcool e esse sub-produto se transforma em álcool combustível. É um ciclo fechado e nada se perde. Até o bagaço da cana, depois que a gente extrai, põe pra secar ao sol e a gente coloca na caldeira pra gerar vapor e destilar a próxima cachaça”, diz.
A expectativa é que a cachaça feita no Vale do Açu comece a ser vendida a partir do próximo ano. O objetivo é ganhar o mercado mais exigente das cachaças artesanais.
“Toda nossa cachaça vai ser armazenada por no mínimo seis meses. A gente vai trabalhar com três madeiras de envelhecimento carvalho, uburana e jequitibá. A madeira incorpora um aroma, um sabor na cachaça que diferencia ela, torna mais elaborado, um produto gourmet”, revela George. G1RN