Um homem que matou o próprio pai de 66 anos com veneno de rato vai ser julgado pelo Tribunal do Júri, nesta quarta-feira (9), em Natal. O crime aconteceu em 2017 e tem contornos dramáticos, aos quais o g1 teve acesso.
A defesa afirma que vai pedir a absolvição do réu e que o homem agiu para tentar livrar o pai do sofrimento de um tratamento terminal de câncer.
"A defesa do Réu lutará por sua absolvição, usando na tribuna os meios de prova existentes nos autos, em que resta caraterizado a não existência de maldade, mas sim um ato praticado em desespero, de um filho vendo o pai sofrendo seus últimos dias de um câncer terminal. Pai e filho eram melhores amigos. A própria família atestará isso durante o júri. Os jurados poderão absolvê-lo, considerar um homicídio privilegiado ou condená-lo. O peso do ato praticado já é uma pena na consciência desse filho", disse o advogado Cyrus Benavides, que representa o réu.
O crime
Segundo a polícia, o crime aconteceu na madrugada do 6 de maio de 2017 na casa onde pai e filho moravam, no bairro Nossa Senhora da Apresentação, o maior bairro da capital potiguar, localizado na Zona Norte da cidade.
Dois dias depois, o autor se apresentou espontaneamente à 2ª Delegacia de Plantão da Zona Norte de Natal e confessou que havia matado o pai com veneno para ratos. Segundo ele, o ato teria sido motivado por desespero.
Na ocasião, o homem tinha 38 anos e trabalhava como assistente de serviços gerais. Durante o depoimento ao delegado do plantão, ele disse que o pai estava com câncer na garganta e fazia tratamento com quimioterapia.
Ainda no depoimento, o homem afirmou que situação delicada e os cuidados com a saúde do pai idoso teria provocado o fim do seu casamento de 23 anos, após a mulher dizer que ele teria que tirar o pai de casa. Além disso, ele havia saído do emprego onde ganhava um salário mínimo para cuidar do idoso.
Segundo o depoimento, em uma sexta-feira, "desesperado com sua situação", réu decidiu envenenar o pai e se matar em seguida. À polícia, ele contou que comprou o veneno e consumiu bebidas alcoólicas para tomar coragem. Depois, misturou o veneno para ratos com um medicamento fitoterápico para ansiedade e insônia e deu para o seu pai beber. O homem disse à polícia que ele também tomou do veneno.
Prisão
O homem contou à polícia que saiu de casa e perambulou por várias ruas da cidade, até voltar para casa e encontrar seu pai já sem respirar. Arrependido e desesperado, ele foi até a Ponte Newton Navarro com intenção de pular e se matar, mas não teve coragem.
Em seguida, ele foi à casa de uma comadre, a quem pediu que cuidasse dos trâmites de velório e sepultamento do pai e com quem deixou a carteira, para que a ex-companheira pudesse sacar dinheiro. Somente no dia 7 de junho, o homem voltou para casa e, seguindo o conselho de uma tia, se apresentou à polícia.
O homem ficou preso de 2017 a meados de 2019, quando foi solto por decisão da Justiça. Ele aguarda a conclusão do processo em liberdade.
Embora o laudo do Instituto Técnico-Científico de Perícia não tenha conseguido apontar a causa do óbito do pai idoso, a polícia apreendeu embalagens abertas de veneno e contou com o depoimento do acusado, confessando o crime.
Processo
Após o fim das investigações conduzidas pela delegacia especializada de homicídios e a denúncia do Ministério Público, ele se tornou réu em março de 2019. Na acusação, o Ministério Público pediu qualificação de homicídio doloso consumado e privilegiado.
O júri foi determinado pela Justiça ainda maio de 2022. Segundo o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, o julgamento desta quarta-feira (9) começará às 8h no Fórum Miguel Seabra Fagundes. G1RN